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A cultura da imprensa, por Mcluhan 23 agosto, 2007

Posted by Fabio Malini in imprensa, jornalismo cidadão, macluhan, optativa, Ufes.
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Quem acompanha o blogue sabe que estou a começar um estudo sobre a blogosfera brasileira e as relações com o jornalismo tradicional … e que, do ponto de vista do ensino, ofereço um curso sobre jornalismo-cidadão na Ufes. O intuito? Fazer a aproximação entre o ethos jornalístico com o mundo da publicação amadora para testar os limites dessa nomenclatura “jornalismo” cunhada pelos gurus da internet para dar vida àquilo que publicamos nos youtubes, blogues e wikis da vida.

O curso começou com um debate sobre os sentidos da imprensa para Macluhan (na foto acima). O texto que serve de anteparo para as discussões é o capítulo dedicado à imprensa, do livro Os meios de comunicação como extensões do homem.

Algumas idéias que mostram bem uma démarche macluhaniana sobre a imprensa:

o jornal é uma forma confessional de grupo que induz à participação comunitária.

É a idéia que o canadense possui de que, como dispositivo impresso, o jornal trata de seruma confissão pública dos acontecimento da pólis. Se o livro imprime a confissão de um mundo interior, de um autor, o jornal revela o exterior, e os autores são os jornalistas em interação com a sociedade. Por isso Macluhan vai chamar o jornal de o “livro diário popular”. É por isso também que Mcluhan constata que “boa notícia jornalística é sempre má notícia”, por esta se tratar do mais alto teor de confissão pública (geralmente “de alguém ou sobre alguém”).

Num certo sentido, o jornal então aparece como aquele que organiza coletivamente a estória comunitária. Quando a confissão é positiva não é notícia, é anúncio (é publicidade). Gosto dessa provocação do Mcluhan. Por quê? Porque as técnicas jornalísticas – a principal delas, a entrevista – se caracterizam como um poder confessional. “É preciso arrancar a informação da fonte”, dizem alguns colegas. O ato falho e a frase solta de forma confessa sempre tiveram um alto valor nos círculos jornalísticos. Em alguns casos, é uso maldoso, mas, em outros, pode marcar um momento histórico importante. Como aquela frase do Ricupero dita no impulso, durante uma entrevista jornalística, “o que é bom a gente mostra, o que não é a gente esconde”, ele teria dito. Algo típico da corrida eleitoral de 1994. Mas essa história de poder confessional é tão fácil de constatar. As assessorias de imprensa hoje vivem de levantar as notícias negativas e positivas que saem de seus clientes. Quanto maior é a positividade delas, maior é a publicidade para o cliente, e maior também é a redução de custos com propaganda. É a busca pela mídia espontânea ou pela impressão da notícia boa nos jornais.

A imprensa repete o prazer que temos pelo playback.

Essa frase é sensacional. A imprensa é repetição, porque é cotidiana, é ordinária. Então ela nutre desse estado “de fazer tudo sempre igual”, algo que demarca o cotidiano. É por isso que ninguém se cansa de ler sobre o próximo Fla-Flu, mesmo que o resultado seja previsível: derrota, vitória ou empate.

Tem uma outra coisa de Mcluhan que ajuda explicar o lugar do jornal hoje, principalmente, quando nos debatemos com o furos da internet e seus impactos no mundo de gutemberg. Dizia-nos que o problema do jornal diário é que ele é profundamente determinado pelas fronteiras, daí sua veia a intensificar nacionalismos e regionalismos. O problema é que a internet é o avesso das fronteiras. É global. E o jornal tem um cultura material que é tensionada por essa territorializaçao. Daí que, quando ele migra para o universo eletrônico (online ou radiodifusão), se trasmuta por completo, sofrendo influência do entretenimento, do envolvimento participativo e dos fluxos globais noticiosos.